
Banho de floresta
A expressão «banho de floresta» (do japonês, shinrin yoku) poderá ser algo que eventualmente já ouviste falar…ou não. Na verdade, há poucas pessoas que sabem o que é e muitas que desconhecem do que se trata, mas é algo que desperta – garantidamente – a curiosidade.
Atualmente, os banhos de floresta ganharam escala face aos estudos que têm vindo a ser desenvolvidos há mais de 40 anos, não só por autores japoneses, mas também de outras geografias e latitudes. A própria medicina «convencional» está cada vez mais convencida das potencialidades desta prática (agora, resta vencer alguns lóbis). Com efeito, o banho de floresta permite ao praticante enraizar-se no presente, tomar pulso ao seu ritmo natural e beneficiar da qualidade do ambiente florestal.
Nós reconhecemos a vantagem desta experiência e os nossos clientes também, com feedback positivo de quem experimentou connosco (cf. críticas). Mas sobre os banhos de floresta – em si – falaremos noutra ocasião.
Um banho de floresta à luz da lua e das estrelas
A Malcata Eco Experience fez a primeira experiência de banho de floresta em ambiente noturno. Havia vários desafios: maior atividade de animais selvagens; limitações visuais para nos apercebermos de eventuais riscos físicos e ambientais, entre outros riscos menores. Mesmo assim arriscámos!
Fizemos a experiência para um grupo muito restrito de pessoas. Optámos por manter o número limitado de participantes nesta atividade «extraordinária» para garantirmos a qualidade da nossa experiência. O banho de floresta pode ser praticado por um grupo grande de indivíduos, mas nós sabemos que há experiências que devem ser vividas exclusivamente por nós ou partilhadas com quem nos conhece. É uma viagem através dos sentidos e das emoções que se associação a cada passo que damos e em que penetramos num ambiente que não nos é familiar. Agora, imaginem à noite, saindo da nossa zona de conforto…o efeito é claramente mais intenso.
E a lua?
O problema com o qual lidamos foi ainda antes do ponto de partida, ou seja, a ausência de lua parcialmente cheia (ainda que estivesse a minguar). Esta experiência noturna serviu, em especial, como percecionar a floresta através dos sentidos, com limitação à perceção visual. Lançamos o desafio inicial de mantermos as lanternas desligadas (e conseguimos!!). Já sabíamos que não estaria tudo oculto e que conseguiríamos distinguir diferentes tipos de tons mais escuros e outras sobras, mas não imaginávamos que conseguíssemos «ver».
O que parecia um desafio foi superado à medida que caminhávamos e conseguíamos ver o que estava à nossa volta. Existem algumas explicações para o fenómeno: a) a mata municipal de Penamacor, não é um ambiente florestal serrado; b) a poluição luminosa à nossa volta permitia que a luz residual «iluminasse» o ambiente. E por fim, mas não menos importante, o facto de não nos ofuscarmos com luz artificial, em especial, dos nossos telemóveis. Aliás, em uma atividade em que acedemos os nossos focos de luz temporariamente, quando desligámos, ficámos «sem ver» durante um tempo. Mas gradualmente a visão foi-se adaptando novamente à escuridão.
Esta pequena lição demonstrou que o estar «colado» a um ecrã tem impactos negativos na nossa visão, danificando-a e limitando a nossa perceção visual, mesmo num espaço que é teoricamente, banhado a negro.
Os outros sentidos
A limitação visual permitiu apurar os restantes sentidos, e embora estivéssemos alertas a qualquer som que pudesse denunciar algum amigo curioso, os sons da floresta à noite são diferentes comparativamente ao regime diurno. A ausência da cantiga dos pássaros permitiu que vento sobre as folhas e as copas das árvores cantassem as suas canções. Fomos também assaltados por sons artificiais, mas não impediu que a sinfonia da natureza nos encantasse à sua maneira. Sem sobressaltos, estes sons convidaram a nossa mente a sintonizar com a natureza de forma…natural. Só no final do nosso banho é que nos fomos dando conta de alguns «caminhantes noturnos» pacíficos.
Se a melodia é diferente, também os odores e sabores o foram. O calor e o efeito do sol intensificam alguns cheiros, mas, mesmo assim fomos invadidos por odores familiares, outros talvez não tanto, uns mais dominantes que outros, mas ainda assim, uma panóplia bem interessante. Há medida que caminhávamos outros cheiros (assim como sons) iam ao nosso encontro. Estávamos a respirar profundo e pausadamente e deixámo-nos inundar por esses aromas que calcorreavam o caminho connosco. Foi interessante verificar o quão diferente os cheiros são, mesmo que num espaço que nos é familiar. Apenas variam entre o dia e a noite.
Um banho de floresta a caminhar sob a estrelas
Mas se o estímulo dos demais sentidos foi interessante, o do tato foi o que mais nos surpreendeu. O tato não é só o que mexemos com as mãos, mas também, o que sentimos com os pés. Atrás tínhamos referido que era possível vislumbrar muito tenuemente o que víamos à nossa volta, mas o mais incrível foi o que «vi-mos» com os pés. Se inicialmente a passada foi hesitante, gradualmente foi se tornando mais segura e confiante com aquilo que os nossos pés viam e sentiam, mesmo que no meio de um terreno irregular. Havia receio da nossa parte de algum acidente (p.e. uma entorse), mas o único que «patinou» (uma vez), foi o próprio guia.
Por outro lado, foi excecional a forma como íamos caminhando, com os olhos virados para o céu, a vislumbrar a beleza do firmamento e de alguma estrela cadente (ou dos satélites da Space X que nós vimos). Em certos momentos parecia que eramos guiados pelos astros e os nossos pés caminhavam tranquilamente sem que fosse necessário olhar, sequer, onde pisávamos. Essa função de «ver» seria atribuída ao nosso próprio tato.
Deixamos o convite (para o próximo)!
A descrição parece que se tratou numa caminhada na floresta, mas foi muito mais que isso. Foi imergir na natureza noturna durante 2h30 em menos de um quilómetro de distância. Não foi a escuridão que nos «retardou», foram os nossos sentidos e as emoções que tiveram o palco principal. Foi o investimento do nosso tempo, em explorarmos, em aventurar-nos, em sair da nossa zona de conforto que nos impeliu a mergulhar na floresta, em algo que foi diferente para os/as participantes e para nós. Traduziu-se em aprendizagem e em conhecer (e reconhecer) as nossas capacidades, a nossa resiliência e no nosso fascínio pela natureza. Em todo o caso, o que experienciámos foi muito além do que foi aqui narrado…
Não nos alongamos muito mais…apenas deixamos o convite para que venham experienciar um banho de floresta noturno connosco. O próximo será em julho, no concelho do Sabugal, com local e data a definir. Mais uma vez, será uma experiência excecional e muito limitada para ti 😊
Junta-te a nós!